segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A Velha Senhora Búlgara por Bruno Ferracci

“Moi serdtsê” era a pequena frase que durante uma trajetória pude ouvir da velha senhora búlgara. Nascida no vilarejo de Gassan Batyr, na antiga Bessarabia, Marusya Koychev, ou como era então chamada aqui no Brasil, Maria Coicev, Maria trazia consigo amor e respeito, o qual aprendeu com seu pai, veterano do Exército Imperial Russo, Stephan Koychev e com sua mãe, a camponesa otomana Domnichia Dimitrov.
Atravessar todo o Continente Europeu e o Oceano Atlântico não era para qualquer um. Contava ela que quando pequena pôde conhecer Akkerman, a Cidade Branca, capital do Governo Bessarabiano. Hoje Bilhorod-Dnistrovisky, na Ucrânia. Se recordava incansavelmente de sua subida no caminhão de guerra quando partiria para Bucareste, onde sua avó acenava com lágrimas nos olhos e saberia que jamais veria a primeira neta novamente na vida. De lá, embarcaram em um trem que partiria para Praga, na República Checo Eslovaca e de lá para Viena, onde emitiram seu visto para o Brasil. Seguindo para Bremen, depois Hamburgo, embarcando no navio Sierra Morena, desembarcando no Estado da Guanabara, na capital do Brasil, o Rio de Janeiro, seguindo direto para a fazenda Laranja Doce, no interior do Estado de São Paulo.
“Fomos enganados”, dizia ela em poucas palavras sobre sua chegada na fazenda. “As fotos e as coisas que falavam sobre aqui foram muito diferentes quando a gente chegou.” Stephan lutou muito para conseguir comprar sua terra e poder sustentar sua família. “Os bichos comiam nossa pele.” Relembrava ela sobre os diversos insetos no meio da lavoura.
Alguns anos depois, a jovem búlgara casou-se com o russo Stephan Popov, filho do agricultor Jacov e da da camponesa Agathiea Slobodsko. Com ele, na cidade de Santo Anastácio e logo depois em Terenos, no Estado do Mato Grosso do Sul, ela pode viver o que ela sempre chamou de amor. “O Stephan era um homem bom.” Reforçava ela referindo ele como sempre um bom homem de Deus. Stephan tinha uma relojoaria a qual pôde sustentar os três filhos que tiveram: Nina, Claudia e Valohdia.
Maria depois de 60 anos perdeu seu amado esposo, e veio a falecer na capital do Estado, com seus 93 anos, amada e cuidada por toda sua família.


Texto por Bruno Ferracci.
Instagram: @brunnoferracci

Nenhum comentário:

Postar um comentário